Por Milton Atanazio
No momento em que o Brasil enfrenta a maior crise sanitária do país, ultrapassando os 100 mil casos de Covid-19 e 7.025 mortes, é lamentável que o presidente Bolsonaro, ignore ou minimize a gravidade da situação e apoie reuniões, aglomerações, manifestações públicas, se colocando na contramão das orientações das autoridades de saúde e Ignorando recomendações do seu próprio governo, que desaconselha eventos públicos. O Governo do Distrito Federal inclusive proíbe.
Não obstante, a atitude presidencial vai mais além.
Para o jornalismo a data deveria ser de comemoração ao Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, mas o que ocorreu sob o céu da Praça dos Três Poderes em Brasília no dia de hoje, foram cenas de repúdio, onde os apoiadores do presidente, em manifestação pública em frente ao Palácio do Planalto agrediram os profissionais de imprensa que acompanhavam o ato. A equipe do jornal O Estado de São Paulo foi atingida por chutes, empurrões, murros e rasteiras. Além do “Estadão”, houve agressão e ofensa a equipes da “Folha de S.Paulo”, do jornal O Globo e do site “Poder360”. A agressão a cada jornalista é agressão à liberdade de expressão e agressão à própria democracia.
Já vimos esse filme, dias atrás, quando milicianos ideológicos agrediram profissionais da saúde, também em manifestação na mesma praça. Hoje, profissionais de imprensa. Amanhã quem saberá?
O presidente Bolsonaro, mais uma vez, participa de ato dessa natureza, com pautas sociais antidemocráticas e inconstitucionais, onde manifestantes se aglomeravam. Faixas pediam o “fechamento do Congresso e do STF”, além de defender uma “intervenção militar com Bolsonaro” e críticas ao ex-ministro da Justiça e Segurança, Sérgio Moro.
Bolsonaro declarou, em fala transmitida nas redes sociais, que tem “as Forças Armadas ao lado do povo” e que “não vai aceitar mais interferência”. Disse, ainda, que pede a “Deus que não tenhamos problemas nesta semana, porque chegamos no limite”. Foram interpretados por políticos de vários matizes como um recado golpista.
Generais da reserva, no entanto, disseram que não há qualquer possibilidade de Exército, Marinha e Aeronáutica embarcarem em uma aventura antidemocrática. As Forças Armadas são conscientes da sua missão constitucional, O momento merece equilíbrio e reflexão, não precipitação, como garante o general Maynard Santa Rosa, que até novembro era o responsável pela Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo federal. Os generais acham que os esforços do governo federal deveriam estar direcionados para o combate ao coronavírus e não para confrontos políticos
Não se sabe exatamente o que e onde o presidente quer chegar com tudo isso, mas é certo que este grupo de manifestantes não representa a maioria do povo que votou em Bolsonaro, ou seja, os quase 58 milhões de brasileiros com mais de 55% dos votos. Com ações repetidas como essa de hoje, o presidente vai perdendo aos poucos, o capital de apoio que as urnas lhe deram, como demonstram as últimas pesquisas de popularidade.
Bolsonaro mais uma vez revela seu desapreço pela democracia, desprezo pelo legislativo, menosprezo pelo judiciário e intolerância com a imprensa.
Como repercutiu o ministro Fux do STF “A dignidade da imprensa se exterioriza pela sua liberdade crítica, de investigação e de denúncia de atitudes anti-republicanas. Num país onde se admite agressões morais e físicas contra a imprensa, a democracia corre graves riscos.”
Não reconhecemos como manifestantes esses agressores. São criminosos comuns e criminosos contra a democracia. Devem responder a processo criminal e serem condenados por lesão corporal. Isso é inaceitável.
Que a Justiça seja célere para punir esses criminosos. Hoje não tivemos motivos para comemorar.
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