Remdesivir: entenda o que é o antiviral experimental aprovado pela Anvisa no tratamento da Covid-19

Remédio recebeu aprovação da agência nesta sexta (12).


A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), aprovou, nesta sexta-feira (12), o antiviral experimental remdesivir para o tratamento da Covid-19 no Brasil. O remédio é o primeiro aprovado no país especificamente para o tratamento da doença.

Veja, abaixo, algumas perguntas e respostas sobre o medicamento:

  1. Como funciona o remdesivir?
  2. Por que a Anvisa autorizou o uso mesmo com a avaliação contrária da OMS?
  3. Para que o remdesivir é usado além da Covid-19? Para quem é indicado?
  4. O remdesivir vai ser vendido em farmácias? Qual é o nome comercial?
  5. Quanto custa o remdesivir? Quando ele ficará disponível no Brasil?
  6. Há alguma contraindicação?
  7. Há algum efeito colateral?
  8. A Anvisa está analisando outros medicamentos?
  9. O remdesivir substitui a vacina?

1) Como funciona o remdesivir?

VÍDEO: Especialista explica o que é o Remdesivir
VÍDEO: Especialista explica o que é o Remdesivir
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O remdesivir é um medicamento sintético intravenoso – aplicado na veia do paciente – que age supostamente impedindo a replicação viral.

Em novembro, entretanto, a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou que o remédio não era recomendado para pacientes hospitalizados com Covid-19, pois ele nem evitou mortes, nem o agravamento da doença.

Um painel da entidade disse que a recomendação tinha base em dados de quatro testes envolvendo mais de 7 mil pacientes internados com Covid-19.

Segundo os especialistas da OMS, não se pode dizer que o remédio não tenha resultados benéficos, mas o fato de essa eficácia não ter sido comprovada clinicamente, somado a seus possíveis efeitos colaterais e custo, levou a organização a não recomendar o seu uso.

2) Por que a Anvisa autorizou o uso mesmo com a avaliação contrária da OMS?

Especialistas da agência explicaram que o estudo Solidarity, feito pela OMS, foi diferente dos estudos americanos e da Gilead, a fabricante.

“O estudo da OMS avaliou mais a ocorrência de mortalidade e pacientes com perfil um pouco diferente dos avaliados nos outros estudos, que consideramos para liberar o remédio. O estudo que consideramos válido focou na redução do tempo de hospitalização dos pacientes e vimos que houve uma redução na hospitalização. Consideramos que é mais uma terapia para ajudar no combate”, disseram.

3) Para que o remdesivir é usado além da Covid-19? Para quem é indicado?

A Anvisa recomendou o uso para adultos e adolescentes com idade igual ou superior a 12 anos e com peso corporal de, pelo menos, 40 kg, com pneumonia e que requerem administração suplementar de oxigênio oxigênio de baixo ou alto fluxo, ou outra ventilação não invasiva (que não estão intubados), no início do tratamento.

O medicamento já está sendo usado de maneira emergencial nos Estados Unidos desde novembro contra a Covid-19. Outra autorização emergencial foi acordada paralelamente, para crianças com menos de 12 anos que pesem pelo menos 3,5 kg.

Ele foi originalmente pensado para tratar hepatite, mas não funcionou; também foi testado para o ebola, sem resultados promissores, reportou o jornal americano “The New York Times”.

4) O remdesivir vai ser vendido em farmácias? Qual é o nome comercial?

Não. O uso é restrito a hospitais. O nome comercial do remédio é Veklury e ele é fabricado pela farmacêutica americana Gilead.

5) Quanto custa o remdesivir?

No Brasil, ainda não há informações.

“Em relação ao preço, isso é uma informação que é consolidada pela Câmara de Medicamentos – uma câmara interministerial. É um procedimento a parte que será deliberado por essa câmara”, disse Gustavo Mendes, diretor-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa.

Segundo a Anvisa, a incorporação ao SUS ainda terá que passar pela aprovação da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde).

Nos Estados Unidos, em outubro do ano passado, o preço era de US$ 3,2 mil por tratamento (o equivalente a cerca de R$ 18 mil).

6) Há alguma contraindicação?

Mendes afirma que não.

“Não observamos contraindicação de maneira geral. Quando fazemos os estudos, buscamos classes de medicamentos compatíveis. O remdesivir é um medicamento que será administrado injetável. Nesse caso a gente tem pouca possibilidade de interação ou reação adversa”, explicou.

7) Há algum efeito colateral?

O único evento adverso grave relatado em menos de 5% dos participantes em qualquer grupo de tratamento foi insuficiência respiratória. Eventos adversos renais foram relatados em 18% dos participantes no grupo que tomou remdesivir e 23% no grupo placebo. O efeito colateral renal relatado com mais frequência foi lesão renal aguda. Nenhuma morte foi considerada pelos investigadores como relacionada com o tratamento.

8) A Anvisa está analisando outros medicamentos?

Segundo a Anvisa, ainda não há pedidos de registro de outros medicamentos, só pedidos de estudos.

“Temos uma série de estudos, aprovamos mais de 60 estudos clínicos que incluem medicamentos para o enfrentamento da Covid. Temos medicamentos que atuam na frente viral e tem medicamentos que são para a parte inflamatória da doença – anticorpos monoclonais, anti-inflamatórios”, explicaram especialistas da agência.

9) O remdesivir substitui a vacina?

Não.

“Óbvio que é ótimo ter estratégias terapêuticas, mas de forma alguma substitui as vacinas, que são a principal ferramenta pra acabar com a pandemia, junto das medidas de enfrentamento”, explica a bioquímica Mellanie Fontes-Dutra, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que integra a Rede Análise Covid-19.

“O que as pessoas têm que entender é que o remdesivir não é indicado pra tratamento de caso leve, assintomáticos, precoce… É somente indicado como auxílio terapêutico para aquele grupo: é um auxílio para pacientes em casos graves de Covid-19 com pneumonia, com suplemento de O2 sem intubação ou ECMO [sigla em inglês para Oxigenação de Membranas Extracorpórea]”, lembra Fontes-Dutra.

Ela lembra que o remédio não substitui nem as vacinas, nem as outras medidas de enfrentamento da pandemia – como o uso de máscaras, o distanciamento físico e a higienização das mãos.

“Vale muito mais a pena não pegar a doença do que lidar com suas consequências”, enfatiza a cientista. “Vacinas vão dar proteção robusta, duradoura, abrangente pra variantes e a longo prazo. Evitam doenças, agravamentos e sequelas“.

Ethel Maciel, epidemiologista e professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), concorda e reforça que a vacina não é medicamento. “A vacina não é um medicamento. A vacina é uma ação de prevenção. Você prevenindo que as pessoas desenvolvam a doença, diminui, também, a transmissão. Essa que é a ideia. É uma estratégia para ser utilizada antes de a pessoa ter a doença”.

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