Entrevista com o Embaixador dos Países Baixos André Driessen – Por Milton Atanazio

Jornalista Milton Atanazio e o Embaixador do Reino dos Países Baixos André Driessen

Os Países Baixos, anteriormente conhecidos como Holanda, correspondem a um país localizado na região da Europa Ocidental, com capital na cidade de Amsterdã. Seu território é banhado ao norte pelo mar do Norte e faz fronteira a sudoeste e leste com a Bélgica e a Alemanha, respectivamente.

Eu fiquei surpreso com a sua ida ao Piauí. Então, como o site tem influência nos Estados do Piauí e Maranhão. Gostaria de saber qual foi a sua impressão dessa visita?

Fomos ao Maranhão, São Luís, com um grupo de 17 embaixadores europeus. Foi uma visita conjunta da União Europeia, liderado pela embaixadora ao governo do Maranhão, basicamente para conhecer São Luís. Nos encontramos com o governador, o prefeito e visitamos o porto, que é um porto impressionante. Basicamente falamos das opções econômicas e o Maranhão nos apresentou todas, um porto bem importante para todo o Nordeste, para os produtos agrícolas e para outros produtos. Visitamos a estação espacial, em Alcântara, as potencialidades do Estado, que tem enorme potencial. Tem muita riqueza natural, tem essa posição estratégica de logística como um ponto de saída de muitos produtos no Nordeste do país e, ademais, tem o potencial turístico. Vimos um pouco também de São Luís. Ouvimos um pouco da história e como viveram os franceses por lá. Depois tivemos uma época muito breve dos holandeses e depois voltaram os portugueses. Então, São Luís foi como a extensão máxima do domínio neerlandês na época 17, que tinha a sua capital em Recife.

Como é que o senhor explica essa questão do boom de investimentos da Holanda no Brasil?

Bem, não é um boom. Acho que sempre temos tido um papel importante nos investimentos, justamente por causas das entrevistas que fizemos essa semana. Estive verificando as cifras e vi que figuramos muito alto na lista dos investidores no Brasil, com uma cifra muito alta. Tem que fazer uma distinção. Tem um investimento direto onde Todo o dinheiro que chega da Holanda é o investimento por controlador final, que implica que a empresa que investe realmente está localizada na Holanda. Essa é uma distinção muito importante, porque o fator entre um ou outro é um fator que também há investidores indiretos. Verifiquei no Banco Central em 2022, nas cifras holandesas de investimento imediato, foram 125.000 bilhões de euros.

São basicamente as grandes empresas. É aqui que investem mais, que estão fazendo extensões em suas operações. Tem investimento, por exemplo, da companhia Shell, que tem sua sede agora em Londres. Todavia muito do dinheiro investido na Shell ainda vem de Holanda.

A Shell é Holandesa?

Holandesa, britânica e recentemente decidiram mudar a sede para Londres. Cito um exemplo. A companhia Raízen, que está no segmento etanol, está expandindo muito aqui no Brasil e muito desse dinheiro investido vem da Holanda. A Holanda tem uma função como centro financeiro, jurídico e em matéria de impostos é muito atrativa. Empresas de todo mundo investem através de Holanda.

Então os investimentos não são setorizados e nem regionais, vamos dizer, no Nordeste ou no Sudeste.

 Uma empresa como a Heineken, que tem cervejarias por todo o país. Então é um investimento que está em Minas Gerais, está no Sul, está no Norte, em Goiás e em vários Estados.

Qual a sua perspectiva para o futuro nessa questão econômica?

Bem, estamos investindo muito na parte da sustentabilidade. Há pontos importantes como agricultura e água. Inventar ou introduzir novos mecanismos para limpar a água é importante. O saneamento de água também, é claro. Toda a área de enchentes, como temos agora no Brasil, com chuvas, em Petrópolis e outros lugares. Todos os tipos de coisas, mas também cidades que são costeiras. Trabalhamos em Recife, que tem um problema com a subida do nível do mar. Escoamento das águas das chuvas, do mar. São situações que a tecnologia Holandesa já tem capacidade para resolver.

Podemos falar sobre crime organizado e desmatamento, que é a outra área de atuação da Holanda?

O desmatamento, claro, é um tema de grande importância, que nos preocupa muito, porque o Brasil, como tem uma das reservas florestais mais importantes do mundo, que são essenciais para guardar o clima do mundo, para lutar contra a mudança climática, a preservação desta riqueza florestal é essencial. Então, fazemos tudo o que está a nosso alcance para combater o desmatamento.  Somos experientes nessa parte de agricultura sustentável.

Acredito que não é necessário desmatar mais, mas usar a terra que está em uso.  E ver como é possível usar melhor ou economicamente melhor. Sobre as terras degradadas, tem dezenas de milhões de hectares de terras degradadas nesse país, que não estão usando para nada. Em vez disso estão desmatando, e tem esses milhões de hectares, que podem ser recuperados, mas precisa de dinheiro para fazer isso. Então, combater o desmatamento, falar com o setor. Setor de Soja, Setor Agropecuário para para ver como podemos melhorar esse sistema é de suprema importância. Grande parte do desmatamento no Brasil já é ilegal. É um crime ao Brasil. A Lei florestal do Brasil é boa, só falta fiscalização. É importante investir neste segmento.

Então, nesse sentido nós sofremos também com a mineração. Sim, claro. Tudo que tem lá na Amazônia, com garimpo, com o crime organizado que está entrando na região amazônica também, o que vem complicando a questão do cultivo de madeira ilegal. Nós estamos muito empenhados nas atividades que tem  a ver com isso.

Somos um país importador que recebe muitas dessas mercadorias e Roterdã é um porto que recebe soja, minerais e madeira, para nós é muito importante saber que o que chega no Porto se é produto legal, produto certificado, e um produto que satisfaz a legislação existente.

 No porto de Roterdã também combatemos o crime organizado, porque, lamentavelmente, no sentido de que, muito da droga da Latinoamérica chega lá.

Temos uma muito boa colaboração com o Brasil na parte de Receita Federal e seus serviços estão colaborando excelentemente para tentar descobrir, já no Brasil, onde está essa mercadoria para captar ou trocar informação. Os portos estão trabalhando estreitamente juntos e também temos a cooperação policial. Essa, por exemplo, entre aduana e polícia nunca, foi interrompido. Mesmo no governo anterior, os serviços continuaram trabalhando juntos. Todo mundo sabe que o crime organizado está entrando em todo esse negócio. É transnacional. A Amazônia é uma fronteira perigosa neste momento.

Nós vivemos agora no presente, um governo que está trabalhando. Nós passamos quatro anos que o direcionamento do governo era totalmente alheio a qualquer diálogo com qualquer país. Então aí a gente vê, inclusive agora, a partir do ano que vem. Essa COP 30, o que o senhor acha que pode favorecer?

É um ponto onde o Brasil vai se  apresentar ao mundo com  tudo o que está fazendo para. compartilhar conosco esse desafio e para nós, vai ser uma possibilidade, um ponto de orientação para preparar diferentes projetos, demonstrações e diferentes iniciativas para assegurar que a situação aqui no Brasil segue melhorando, segue. E que o Brasil não vai sofrer outra vez o retrocesso. como nos anos passados. Estamos reconstruindo instituições. Falta, por exemplo, um Ibama. Falta muita capacidade para fiscalizar. É preciso investir mais ainda na fiscalização. Na verdade, do pouco que se tinha, foi destruído. Então agora tem de recomeçar. E o presidente diz.Tem de reconstruir, sim, tem de começar muito, porque esse país gigantesco, então, se fala com a gente do Ibama, com quantas pessoas tem que controlar este grande país. É preciso mais gente pra trabalhar na fiscalização.

Conte-nos sobre o Dia do Rei

 O Dia do Rei é um dia muito importante para a Holanda, porque é o aniversário do rei. E o rei, um símbolo da unificação do país. Uma confraternização de todo mundo, de todas as pessoas. Na Holanda temos grandes festas. O rei visita a uma cidade particular no país que a cada ano selecionamos uma cidade que assim que prepara a festa para o rei e no resto celebramos. A cor usada é o laranja, Então a laranja se une o povo e celebramos com música, com feiras, com diferentes atividades para para crianças. Para adultos, concertos em todo o país. A festa é nossa.  Seria comparada ao carnaval no Brasil.

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