Artigo – Vendaval no Planalto

Por Milton Atanazio

Embora a previsão do tempo informada pelos meteorologistas do país não preveja tempestade em Brasília, no Palácio do Planalto, pelo menos há algumas semanas, o clima não é de céu-de-brigadeiro, pelo contrário.

O turbilhão que atinge o Planalto, onde despacha o presidente Bolsonaro, abriga uma situação de ventos fortes onde o clima não está colaborando.

Desde a demissão de Luiz Henrique Mandetta do ministério da Saúde, num momento em que ele comandava a missão mais crítica para o país – O combate ao Coronavírus – Bolsonaro escolheu o caminho inverso, indo de encontro as orientações de seu próprio Ministério da Saúde e da OMS pelo distanciamento social. Sua participação foi marcada pelo desprezo à ciência – tudo isso não deixa dúvida sobre a inépcia e a competência para exercer o cargo para o qual foi eleito. Substituído o ministro, esperava-se que a situação se acalmasse.

No texto bíblico está dito: “Depois da tempestade vem a bonança”. Mas não é sequência automática. Depende de como cada um vivencia os momentos de sofrimento, do aprendizado que cada um faz e da mudança de atitude posterior aos tempos de angústia.

No domingo seguinte, mais uma derrapada, quando se junta ao comício golpista realizado em frente ao quartel-general do Exército, no Setor Militar Urbano em Brasília, onde incitou fanáticos que pregavam contra as instituições democráticas e constrangeu a ala militar de seu governo, que se mantem fiel à Constituição. A tempestade volta ao Planalto, onde chegaram as repercussões do Congresso e o do Judiciário, que repudiaram o ocorrido.

Novamente, esperava-se que a temperatura baixasse e vem mais uma escorregada. Desta vez com a saída do ministro mais popular de sua administração, Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública.

Bolsonaro demitiu o delegado Mauricio Valeixo, diretor-geral da Polícia Federal e homem de confiança de Moro. A demissão foi a gota d’água.

Moro sai atirando e deixa a pasta após um ano e quatro meses no primeiro escalão do governo, acusando Bolsonaro de tentar interferir em investigações da Polícia Federal (PF). Ao anunciar a demissão, em pronunciamento no Ministério da Justiça, Moro afirmou que o presidente lhe disse mais de uma vez, expressamente, que ele queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, onde ele pudesse ligar, colher informações, colher relatórios de inteligência, seja diretor, seja superintendente. E realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação. Sai um dos pilares que avalizavam o governo Bolsonaro. Temos pela frente instabilidades e o céu escurece.

As apostas para a reposição dos cargos estão em curso. A substituição de Sérgio Moro pelo ex-chefe de gabinete e padrinho de casamento de um dos filhos; a troca do comandante da Polícia Federal, que investigava outro filho, por um outro amigo do primeiro filho que trabalhou na campanha eleitoral e tentou montar uma estrutura de arapongagem paralela antes de chefiar a Abin; a indicação, para comandar um banco público, de um réu da Operação Lava Jato; a aproximação de políticos do naipe de Roberto Jefferson, Valdemar Costa Neto e Gilberto Kassab – tudo isso não deixa dúvida sobre a possibilidade de naufrágio moral do presidente Jair Bolsonaro.

Ao ensaiar uma aproximação com os partidos do chamado “centrão”, oferecendo cargos em troca de apoio no Congresso, desaponta os que ainda acreditam em sua disposição de manter distância da política tradicional. Só que agora é uma questão de sobrevivência política.

Não bastam os abundantes crimes de responsabilidade que já existem para derrubá-lo. O impeachment, não custa lembrar, tem acima de tudo natureza política. Existe um novo desenho das forças de apoio e oposição ao governo. De um lado, Bolsonaro reconhece enfim que precisa de aliados no Congresso para evitar ser apeado do cargo e para contrabalançar o poder crescente da dupla que comanda o Legislativo, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre. De outro lado, o presidente entra com tudo no modo de sobrevivência (ou desespero), em que o importante é preservar os filhos e o apoio das alas mais leais e mais radicais – e resistir, reagir, enfrentar e lutar, aguardando chuva fina.

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