Manifestantes pró-UE em passeata pelas ruas de Budapeste — Foto: Laszlo Balogh/Reuters
O crescimento dos nacionalistas na eleição da Finlândia, onde o partido populista contra imigração ficou em segundo, quase empatado com os social-democratas, é um prenúncio do movimento que deverá tomar conta do continente nas eleições para o Parlamento europeu.
Em geral desprezado pelo eleitorado, o pleito marcado para entre 23 e 26 maio será desta vez decisivo para o futuro da União Europeia (UE). O tradicional embate entre esquerda e direita foi substituído na campanha pela disputa em torno do nacional-populismo, cujos variados tons de euroceticismo prometem impor um freio ao projeto europeu.
No poder na Hungria, Polônia e Itália, com crescimento marcante no resto da UE (apesar de recuos recentes), os partidos nacional-populistas deverão reduzir a maioria que mantém o controle do Parlamento europeu há dez anos, por meio da coalizão tácita entre dois blocos: o Partido do Povo Europeu (EPP), à direita, e a Aliança Progressista de Socialistas e Democratas (S&D), à esquerda.
Em 2009, os dois blocos detinham 61% das cadeiras. Em 2014, o percentual caiu para 54%. As pesquisas sugerem que fique em torno de 45% nas eleições de maio. Se isso acontecer, será impossível manter o consenso no Parlamento sem acordo com partidos nacional-populistas, a maioria deles de extrema-direita.
Tal dilema ficou claro quando o EPP apoiou a aplicação do artigo 7 do Tratado de Lisboa, que regula a UE, contra a Hungria, por violações à independência do Judiciário, à liberdade de expressão e aos direitos de minorias e imigrantes. O partido do premiê Viktor Orbán, contra quem pesam todas as acusações, integra o EPP.
Ao mesmo tempo que apoiou sanções contra a Hungria, o bloco evitou expulsá-lo para manter seu tamanho no Parlamento. O candidato do EPP e provável próximo presidente da Comissão Europeia (o mandato de Jean-Claude Juncker acaba em outubro) é o alemão Manfred Weber, um democrata-cristão cuja posição em relação à Hungria foi ambígua o bastante para manter Orbán no bloco.
Nacional-populistas como Orbán, o italiano Matteo Salvini ou a francesa Marine Le Pen não defendem a dissolução da UE, pois a participação da união conta com apoio majoritário entre seus eleitores. O projeto deles é enfraquecê-la, sobretudo na legislação relativa à imigração, política externa comum e direitos humanos.
Não se sabe exatamente como reagiriam a iniciativas para lidar com a imigração em termos continentais, como a criação de uma polícia fronteiriça europeia. É mais provável que sejam contra e, a exemplo do que fez Orbán quando o continente sofreu o influxo de refugiados sírios em 2015, queiram manter suas fronteiras fechadas.
Apesar da campanha eficaz, com o apoio do ex-estrategista-chefe de Donald Trump Steve Bannon e dinheiro de organizações conservadoras americanas, os nacional-populistas enfrentarão forças estabelecidas com enorme capacidade de persuasão.
Partidos ecologistas, preocupados com mudanças climáticas, têm conquistado espaço, em especial na Alemanha. A patética confusão em torno do Brexit levou muitos a rever seu euroceticismo. Há, ainda, o establishment da eurocracia de Bruxelas e lideranças como o presidente francês Emmanuel Macron, principal articulador do movimento para ampliar os poderes da UE.
A principal meta do projeto de Macron e dos eurófilos é aprofundar a Zona do Euro, com um Orçamento comum, a transferência de poderes fiscais de instituições nacionais às europeias e um possível Ministério das Finanças europeu. Seria, dizem os defensores da ideia, um antídoto a crises como a da Grécia.
Macron defende ainda a criação de uma procuradoria europeia e da força de polícia continental. Todas essas ideias são vistas com mais reserva até mesmo por sua maior aliada, a chanceler alemã, Angela Merkel. Em seu próprio país, Macron enfrenta a resistência do movimento dos “coletes amarelos” e dúvidas sobre a estratégia do “grande debate nacional” adotada para debelá-lo.
Apesar do esforço de eurófilos como Macron, o crescimento da bancada nacional-populista nas urnas parece incontornável. O efeito no futuro da UE é imprevisível. A decepção com o Brexit e a própria pressão de eleitorados nacionais, beneficiários da integração econômica, mostra que, apesar da agenda contrária à imigração, não há mais tanta gente interessada no fim da UE para acabar com o “globalismo”.
Por Helio Gurovitz – Articulista do Portal G1-
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